O dilema do porco-espinho

Por que pensar nas perguntas quando são as respostas que interessam?

Thursday, March 13, 2003

A medida em que vivia fui construindo uma casca em torno de mim.
Com ela podia passar por cima de todo meu sofrimento
como se fosse uma daquelas pessoas que caminham sobre as brasas.

A medida em que essa casca foi endurecendo fui me tornando inabalável
e portanto perfeitamente adaptado ao mundo em que vivia.
Era muito bom.
Só chegava a sentir realmente dor depois que já estava sangrando,
só percebia que estava triste depois que já estava chorando,
e não sabia se amava até que era tarde demais.
E sobretudo, por cima de todos os outros lixos, não sofria.

O tempo passou sem que eu notasse,
atropelando qualquer sentimento...
Minha vida era uma sucessão de acontecimentos sem importância.

Só fui realmente perceber o quanto já havia vivido,
depois que já estava morto, enterrado e sepultado,
depois que tinha todo o tempo do mundo
e nenhuma possibilidade de realizar algo...

Em vida,
tinha me transformado em uma pedra
dura, forte, segura, tranqüila e confiante.
Já havia me tornado, antes, uma lápide viva.

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